H. E. ALEXANDER
Publicação: Action Biblique
Título original: Vendant son droit d ́aînesse
Entre os livros mais antigos da humanidade, a Bíblia é o livro mais atual e mais impactante que existe.
Quanto mais nós a conhecemos, mais constatamos que página após página, história após história, fatos após fatos, ela nos fala de forma viva, direta, atual e reveladora.
Eis um exemplo:
“…Assim desprezou Esaú o seu direito de primogenitura…” (Gn 25:34).
Mas o que era o “…direito de primogenitura” (Gn 25:34b) dos filhos de Jacó? Na cultura da época, significava o direito do filho mais velho em ter a benção do pai, como também sua herança e o nome da família. Do ponto de vista espiritual, representava o cumprimento da promessa em (Gn 3:15) “…porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirá o calcanhar”.
Através desta descendência a serpente seria vencida e julgada, essa descendência divina que deveria triunfar sobre o mundo. Sim, Deus nos providenciaria um Salvador divino, uma herança direta da promessa para vir ao mundo nos dar a vida eterna
“…Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra…” (Gn 12:1-3).
Tudo isso pertenceria ao primogênito, mas Esaú desprezou essa herança por um prato de lentilhas (Gn 25:34). O autor da epístola aos Hebreus relata o fato histórico dizendo que “…por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura, pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado; pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hb 12:16b 17).
Quantos não fazem a mesma coisa nos nossos dias, e se encontram na mesma situação? O mundo os absorve totalmente, e eles não respeitam a glória de Deus, nem a liberdade dos homens.
O culto à inteligência e à glória humana são os valores dos nossos dias. Não devemos ficar surpresos com a aproximação dos dias nos quais “…homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados…” (Lc 21:26).
Diante de tal cenário, é comum alguém dizer: “…comamos e bebamos, que amanhã morreremos…” (I Co 15:32b e Lc 17:26-30). E assim, quantos não se deixam levar por esse pensamento e vendem seu direito de primogenitura “…por um repasto…” (Hb 12:16b)?
O “…direito de primogenitura…” (Gn 25:34b) que para Esaú e Jacó se referia ao plano material, para nós se refere ao plano espiritual. Ainda que estejamos mortos nos nossos “… delitos e pecados…” (Ef 2:1), como “…filhos da ira…” (Ef 2:2b) merecendo plenamente a cólera de Deus, Ele não nos tratou como merecíamos, ao contrário, enviou o Seu Filho amado, o Filho da promessa, Jesus Cristo para tomar sobre Si nossos pecados, a fim de que “… todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna…” (Jo 3:16b).
Jesus Cristo veio ao mundo para nos salvar, nos justificar, nos adotar como Seus filhos, e “…também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo…” (Rm 8:17b). Este é o nosso “…direito de primogenitura…” (Gn 25:34b).
Além do mais, através de Sua obra redentora e o poder do Espírito Santo, Ele nos chama não somente a sermos salvos pela graça, mas também a serví-Lo.
Não há mais apóstolos e profetas, e os anjos não podem fazer o nosso trabalho. Assim “…Deus escolheu… as coisas fracas do mundo…” (I Co 1:27b) para cumprir Seu maravilhoso plano de bençãos e felicidade para os homens.
Cada um de vocês que se diz cristão tem a responsabilidade de ser Sua testemunha, de seguí-Lo e serví-Lo no meio dos seus semelhantes. “…eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação…” (II Co 6:2b). Sim, esse é o momento favorável para você dar o seu testemunho.
Este é o modelo bíblico de vida cristã: “… deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro…” (I Ts 1:9b).
Sim… Servir a Deus! Começando na sua casa, a sua volta, próximo daqueles que o cercam no dia-a-dia.
Então Ele poderá conduzí-lo “…até aos confins da terra…” (At 1:8b). Mais uma vez, esse é o seu “…direito de primogenitura” (Gn 25:34b), trabalhar para o Reino, para a eternidade.
Devemos servir a Deus num tempo como o nosso, ainda que num mundo agitado e sem paz, para dizer que existe uma única esperança, uma só justiça, uma só verdade e um só caminho de paz: Jesus Cristo!
Proclamar essa mensagem mesmo entre aqueles “…que se acham investidos de autoridade…” (I Tm 2:2b), pois Deus também quer que “…sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade…” (I Tm 2:4b).
Essa mensagem deve ser proclamada a todas as raças e povos, sem restrição. Esse é o seu “…direito de primogenitura” (Gn 25:34b).
“…Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
Você venderia isso por um prato de comida?
É necessário servir a Deus no meio da sua geração, identificando-se com suas necessidades, entendendo os seus sofrimentos, suas tristezas, suas dúvidas e conduzindo-os a Deus através de Jesus Cristo.
“… Somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (II Co 5:20).
Levar adiante essa mensagem, esse é o seu “… direito de primogenitura” (Gn 25:34b).
Sim, devemos compartilhar esse tesouro incomparável chamado Bíblia, a própria palavra de Deus, revelação para todos os homens e todas as nações. Essa Palavra que está acima de qualquer outra, dada por Deus através dos séculos, traduzida em centenas de línguas, para que cada homem possa conhecer o que Deus diz.
É um inestimável privilégio e gloriosa vocação de cada um que se diz cristão: semear a semente incorruptível da palavra de Deus e vê-la brotar.
A Bíblia é um livro que nos fala diretamente sobre o pecado, a mentira, a iniquidade ou a injustiça dos homens. Ela revela do que os homens são capazes sem jamais contaminar a sua divina inspiração.
Ela revela o amor de Deus, Sua misericórdia insondável, Sua compaixão imensa por cada alma sem deixar de mostrar a Sua ira contra a hipocrisia e falsa religiosidade. Eis o maior tesouro do mundo, capaz de transformar toda a sociedade humana.
O próprio Senhor Jesus disse: “… Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16:15).
Reflita agora sobre o título dessa meditação: “Desprezando o seu direito de primogenitura”.
Você venderia o seu direito de primogenitura por um miserável prato de lentilhas, que depois em pouco tempo o deixaria decepcionado e frustado?
Não é este o resultado de tal desprezo? E por que então desprezamos esse direito? Seria por temor dos homens?
Você possui o desejo de seguir o Senhor e serví-Lo, mas na família há oposição e incompreenção. Como agir? Recuar e desprezar o seu “… direito de primogenitura” (Gn 25:34b)? O Senhor diz: “… Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lc 9:62).
Ou seria por amor às coisas do mundo? Seja sincero, você ama “… o mundo… as coisas que há no mundo”
(I Jo 2:15a)? Você já se acostumou com o gosto dessas águas contaminadas das “… cisternas rotas…” (Jr 2:13b).
A Bíblia fala dos “… prazeres transitórios do pecado” (Hb 11:25), porém, “…que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8:36). Pense bem!
Será que o seu desprezo provém do amor a sua vida fácil, “segura” e tranquila? Você é indiferente ao sofrimento e a perdição do mundo, indiferente ao chamado Daquele que você diz amar?
Que egoísmo extremo! Você esquece que “…de Deus não se zomba, pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção…” (Gl 6:7-8a). Mesmo assim, você ainda venderia o seu “…direito de primogenitura” (Gn 25:34b) por um prato de lentilhas?
Você quer agradar aos homens? Infelizmente, precisamos reconhecer que uma das maiores tragédias dos nossos tempos são jovens que aspiram servir, querendo seguir o exemplo daqueles que já estão no campo
missionário, desejando deixar para trás suas vidas inúteis, mas não podem fazê-lo por causa de influências contrárias das pessoas a sua volta. Que sofrimento para o Mestre!
Tantas vidas impedidas de servir por aqueles que se opõem às vontade do Senhor. Muitas vezes isso acontece em nome de um interesse que se diz religioso, “…como dominadores dos que vos foram confiados…” (I Pe 5:3a), ao invés de deixá-los seguir o caminho glorioso do serviço para Deus.
Jovens, o temor dos homens é uma armadilha, nos diz a Bíblia, mas o “…O temor do SENHOR é o princípio do saber…” (Pv 1:7a). Que ninguém faça comércio com a alma nem os seus galardões. Fiquem atentos para que ninguém lhe faça vender o seu “…direito de primogenitura” (Gn 25:34b) e isso por um prato de lentilhas!
Os eventos no mundo se sucedem, e as possibilidades de serví-Lo não estarão sempre disponíveis. As dificuldades no caminho do cristão verdadeiro só aumentarão: “…a noite vem, quando ninguém pode trabalhar…” (Jo 9:4).

